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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tempo de Reconstruir




Estrela de aventuras e dramas no cinema, a atriz norte-americana Angelina Jolie protagonizou uma polêmica e tanto em maio ao anunciar a retirada das mamas para evitar um possível câncer. Assim como sua mãe, morta aos 56 anos devido à doença, Jolie, de 38 anos, tem uma alteração no gene BRCA1, que aumenta o risco de aparecimento de tumor maligno mamário e ovariano. Conforme ela chegou a dizer, o procedimento reduziu em 85% a possibilidade de vir a ter o problema. A revelação ganhou as capas de grandes jornais e revistas em todo o mundo, foi destaque na tv e na internet e levou muitas mulheres a procurar clínicas para a realização de testes genéticos, que chegam a custar R$ 7 mil nos serviços particulares. A exemplo da artista, passaram  a considerar uma eventual mastectomia profilática, embora apenas 5% de toda a população tenha alteração nesse gene. O alarde foi tal que o Ministério da Saúde veio a público alertar sobre a falta de consenso científico quanto à eficácia da cirurgia feita por Jolie como forma de prevenção, razão pela qual o Sistema Único de Saúde (SUS) não custeia o exame de sequenciamento genético nem a cirurgia preventiva, apenas a de retirada quando o tumor é descoberto.

Essa remoção, é bom que se diga, não é tão mutiladora como no passado. O tecido mamário retirado pode ser compensado com a colocação de prótese de silicone, que em geral não causa efeitos colaterais. Duas semanas antes da polêmica, porém, passou quase despercebida a entrada em vigor da Lei nº 12.802, que obriga toda a rede de unidades integrantes do SUS a fazer a imediata cirurgia plástica para reconstrução da mama. Conforme a legislação, quando existem condições técnicas, a reparação será efetuada no mesmo procedimento cirúrgico. Caso contrário, haverá acompanhamento e a garantia de sua realização assim que a paciente estiver em plenas condições. A Lei nº 9.797, de 1999, já obrigava o poder público – e os planos de saúde, muito embora discordem disso – a reconstruir a mama, mas não estabelecia prazo. 

“Nós lutamos muito para que essa lei fosse aprovada”, comemora o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e médico do Grupo Hospitalar Conceição, de Porto Alegre, o mastologista José Luiz Pedrini. Para ele, é um grande passo. “O ideal é que a mulher submetida a uma mastectomia saia da sala de cirurgia com sua forma física preservada.” Outro, igualmente importante, será seu cumprimento, uma vez que centros cirúrgicos – assim como os serviços diagnósticos – ainda são insuficientes.
Como lembra o especialista, outro direito da mulher é recusar o procedimento imediato. No entanto, adiar pode significar viver para sempre mutilada, desprovida do símbolo maior da sexualidade e feminilidade. Segundo ele, isso é preocupante, pois cerca de 60% das mulheres que não reconstroem a mama imediatamente nunca mais o fazem, por medo, crença de estar sendo punida e diversos outros motivos. Realizada de imediato, a reconstrução não demora mais que 40 minutos e traz um benefício para o resto da vida. 

“Quando adiada, a forma da mama se perde para sempre, o cirurgião tem muito trabalho, tem de trazer pele de outro local, e a cicatriz será maior.” 

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada ano surgem aproximadamente 52 mil novos casos. Só que a incidência da doença vem crescendo nos últimos anos, conforme a SBM. E não é devido ao aumento do diagnóstico pela maior cobertura de serviços radiológicos. É que, além de causas genéticas e da postergação da maternidade e da amamentação, que têm efeitos protetores, há fatores ambientais, que respondem por 95% dos casos. Entre eles, estão alimentação inadequada, com excesso de carne vermelha e de aditivos químicos, ganho de peso, em especial depois da menopausa, aumento do alcoolismo, do sedentarismo, do estresse e da depressão, que enfraquecem as defesas do organismo. Por isso, conforme os médicos, a busca por uma vida mais ativa, com uma postura mais positiva diante dos problemas, é a chave para ajudar a prevenir a doença. Uma realidade que exige ainda mais atenção a ações básicas de prevenção, como o exercício frequente do autoexame e a fidelidade às consultas de rotina.